particular de
arte sacra do
Brasil
A Corte Celestial, como o pernambucano Abelardo Rodrigues chamava a sua coleção de arte sacra – a terceira maior desse gênero no Brasil e a maior coleção particular do país.
A exposição “As Imagens da Fé” – Coleção Museu Abelardo Rodrigues apresenta cerca de 800 peças. A riqueza e a diversidade do acervo que expressa a religiosidade e a fé do povo brasileiro.
Crucifixos, oratórios, maquinetas, imagens, pinturas e fragmentos de talha adquiridos pelo colecionador ao longo de sua vida. Seu gosto apurado e sua paixão pelas imagens religiosas cristãs o fizeram compor uma das coleções de arte sacra mais prestigiada.
Representa o legado cristão, católico, do povo brasileiro. “Esta é uma herança marcante, principalmente na Bahia. Basta lembrar o ditado que diz que Salvador tem 365 igrejas, ou pensar na força da tradição das festas populares, quase todas ligadas a santos católicos.
O projeto expográfico tem como objetivo valorizar tanto o conjunto da coleção, quanto o próprio prédio do século XVIII que a abriga. “Os acervos estão expostos quase em sua totalidade, de maneira simples, democrática, possibilitando que o visitante tenha uma visão geral do conjunto, tanto das obras, quanto do espaço onde elas estão. Foi criado um mobiliário mínimo e discreto, e realizada a abertura de passagens e de arcos anteriormente fechados, possibilitando uma visão panorâmica e geral das obras e do prédio. “Este é o espaço nobre do Solar Ferrão. Com esta nova montagem, foi valorizado o grande salão, as colunas retorcidas, dando destaque não apenas às obras da coleção, mas ao próprio patrimônio edificado”.
Expografia: É o registro de objetos que estão "em exposição". Este termo é utilizado no campo da Museologia, portanto "expográfico" é a condição que tem o espaço de ser a coisa "exposta".
SOBRE O ACERVO
Representativas de várias épocas, escolas e materiais, as peças que compõem o acervo são a expressão do trabalho erudito e popular realizado por artesãos, entre os séculos XVII e XX, no Brasil, sobretudo no Nordeste. Retratam, ainda, a riqueza e a diversidade da arte sacra brasileira, demonstrando as varias tendências e o fortalecimento das identidades regionais.
Abelardo Rodrigues, advogado, dentista, paisagista, poeta e pintor pernambucano e colecionador, movido por uma forte paixão pela arte cristã, busca na expressão material da arte sacra a força da religiosidade, percorrendo o Brasil e o resto do mundo, especialmente o Nordeste, adquirindo peças em diversas localidades para modelar o seu universo.
Além de encontrar a beleza de formas manifestadas pela Igreja Católica, Abelardo se valeu da ênfase do aspecto devocional, do amor e da compaixão visualmente estimulados pela diversas representações dos momentos da história cristã. Assim, na coleção do Museu abundam cruzes e crucificados, Virgens, mártires e Madonas, santos homens e santas mulheres recheados por uma doutrina religiosa; cabeças de imagens de roca ou de vestir com corpo de madeira tosca de estrutura aparente que um dia foram encharcadas de perfume, usando perucas de cabelos humanos e vestes reais, levados em procissões solenes e feéricas, em que não faltaram lágrimas e pecados confessos em alta voz.
Adquirida pelo Governo do Estado da Bahia no ano de 1975 – após longa disputa com o Governo do Estado de Pernambuco, conhecida na época como “Guerra Santa” – a coleção foi mantida na integra , como assim pretendia o seu colecionador
Aos poucos, o colecionador de gosto apurado conseguiu formar um acervo cuja riqueza estava na diversidade das peças e imagens dos séculos XVII ao XX. Ele fez de sua casa o seu mundo, lugar de suas coleções. Com ajuda da família, promovia a conservação, a imunização, a catalogação e o registro das obras. Um trabalho conjunto para construir e preservar um patrimônio artístico a ser legado à posteridade.
Abelardo participou do movimento de renovação estética da década de 1930, ao lado de artistas como Portinari, Goeldi, Heitor dos Prazeres, Dacosta e Pacetti. Além de criar o Museu de Arte Popular de Pernambuco, ao lado do artista Aloísio Magalhães, participou da criação do Museu de Arte Popular de Caruaru, em 1961 e fundou e presidiu a Escolinha de Arte do Recife. Em 1971, ao liderar a Campanha Popular contra a demolição da Igreja do Bom Jesus dos Martírios, em Pernambuco, sofreu um enfarte, morrendo em dezembro do mesmo ano.
Uma de suas grandes preocupações era o destino de suas coleções. Abelardo temia que os objetos que adquiriu ao longo da vida se dispersassem, ou pior, fossem levados para fora do país. Com seu falecimento, o patrimônio adquirido pelo colecionador ficou a cargo de seus familiares, os quais respeitaram e atenderam seu anseio. Em 1975, a família Rodrigues vende ao Governo do Estado da Bahia o seu acervo. Em 1981, foi inaugurado em Salvador o Museu Abelardo Rodrigues, implantado no Solar Ferrão, Pelourinho, garantindo com isso a integridade da coleção e o acesso do público à mesma.
De acurado espírito crítico, Abelardo conseguiu reunir em sua coleção peças representativas de várias épocas e escolas, produzidas nos mais diferentes materiais tais como: barro, madeira, marfim e pedra-sabão, permitindo uma análise da arte sacra e suas peculiaridades. A Corte Celestial, como foi batizada pelo próprio Abelardo Rodrigues, tornou-se fonte de estudos e pesquisas sobre estilos artísticos – especialmente o barroco – além de temas como estética religiosa, iconografia, e religiosidade popular nas artes plásticas.
No acervo, crucifixos, oratórios, maquinetas, imagens, pinturas e fragmentos de talha servem de registro do trabalho erudito e popular realizado por artesãos brasileiros, entre os séculos XVII e XX, especialmente no Nordeste. A diversidade da coleção remete ao multiculturalismo e a miscigenação ocorrida no Brasil, além de evidenciar a forte presença da religiosidade na formação do povo brasileiro. O olhar atento do colecionador prezava não só pelo precioso e o raro, na escolha dos objetos era levado em consideração o inusitado das propostas, as tendências regionais e o histórico das peças.
As Imagens da Fé – Coleção Museu Abelardo Rodrigues, Centro Cultural Solar Ferrão – Bahia
Organização: Daniel Rangel / Expografia: André Vainer / Pesquisa da Coleção:GuilhermeFigueirêdo / Fotos: Rosilda Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário