quinta-feira, 30 de junho de 2011

Barro

 

cerâmicas 1                                      MULHERES

QUE

MOLDAM

SUAS

VIDAS COM

AS

PRÓPRIAS

MÃOS

                                                                                                                                                                                                             

Cerâmicas de artesãs cearenses: o sino da felicidade, feito por Corrinha, as flores de Clara, e a tigela assinada por Lúcia Pequeno.

O Barro da vida

No Ceará, o barro tem papel importante na vida de famílias inteiras, tendo à frente mulheres de uma força admirável. Por meio da terra, elas produzem peças de cerâmica, seja para uso doméstico ou decorativo. Tudo feito com o contorno das próprias mãos, habilidade e singela beleza. Em todas as regiões do Estado, mulheres têm, em comum, o talento de transformar a terra nesse artesanato de origem indígena. O trabalho com o barro no território cearense é tão forte que proporcionou o maior número de Mestras da Cultura Tradicional do Estado na área de artesanato. Por meio da cerâmica, o título, concedido pelo Governo do Estado, chegou às mãos de muitas artesãs, exemplos de persistência e amor pelo trabalho.

Artesanato premiado

Cerâmica 2 panela de Ciné

   As panelas Feitas por Ciné podem ser decorativas ou utilitárias, pois resistem a altas temperaturas. Mas as louças também se destacam pela proposta decorativa.

“Tenho orgulho do meu ofício”

Solitária no amplo galpão da Associação das Artesãs de Alegria (Adada), Francisca Franciné Fortuna Sampaio, produz frigideiras de cerâmica. Ciné, como é conhecida em Ipu e presidênte da Adada. “Já me apeguei ao artesanato. Tenho muito orgulho do que faço. Depois de pronto, acho tudo bonito. Melhor ainda é quando as pessoas reconhecem o trabalho. Ciné cria panelas, potes, vasos e travessas, entre outros produtos decorativos e utilitários. A associação foi premiada com o Top100 de Artesanato, que seleciona as 100 unidades produtivas mais competitivas do Brasil no setor.

Requinte do barro  Louças finas e delicadas. Essa é a marca de Lúcia Rodrigues da Silva, do Córrego da Areia, em Limoeiro do Norte. A mestra da Cultura pelo Governo do Ceará. No começo, fazia casinhas e carrinhos para vender na feira. Lúcia conta com a parceria das irmãs para cumprir o prazo das encomendas. Embora tenha herdado o ofício dos pais louceiros, cada uma desenvolveu estilo próprio. O de Lúcia é incomparável. As peças são tão finas que mais parecem porcelana. Para chegar a esse resultado, enfrentam desafios diários. O barro é extraído próximo à sua casa. O forno de barro no quintal precisa de proteção adequada, pois não pode ser utilizado no inverno.

Cer^Çamica de Lucia 3

A cerâmica de Lúcia é incomparável. Feita com esmero, parece porcelana de tão fina na espessura e no acabamento

Cerâmica 5 panelas    Peças em formato de jerimum 

As artesãs criam panelas, travessas, vasos, jarras e conjuntos de feijoada, entre outras peças. Parte delas ganha contornos característicos de louça, remetendo ao formato do jerimum. A maioria tem destino certo: são vendidas para os Estados Unidos.

cerâmica 29

As galinhas de Viçosa

As galinhas são marca registrada de Vanusa, que faz ainda peças tradicionais, seguindo os passos da mãe, a mestra Francisca.

Em talento e persistência a artesã Vanusa, ainda menina, aos oito anos, começou a dar os primeiros passos na arte de fazer cerâmica. “Fazia pote, panela, quartinha e também acompanhava a mãe à feira de Viçosa do Ceará, todos os sábados”, relembra. “Acho meu ofício muito importante., tenho o maior orgulho de ser reconhecida pelas minhas criações. Somos respeitadas como artesãs”, comemora. “Faço todos os modelos, principalmente as galinhas. A cada curso que temos oportunidade de fazer, a gente se aperfeiçoa mais”.

cerâmica 30

À sede da Associação dos Artesãos em Cerâmica do Tope é uma das atrações para quem visita Viçosa do Ceará. O espaço, conquistado com apoio do Governo do Estado, tem sala de exposição, ateliê e forno. A 3km da sede do Município, é possível ver artesãos criando peças e comprá-las, a exemplo de panelas, travessas, xícaras e muitas outras peças.

Ceramica 31Madalena é uma das únicas no Sítio Tope que continua fazendo peças lúdicas

 

 

 

 

 

                                                                                                                                                                                      Miniaturas valiosas

Brincar com miniaturas de cerâmica já foi uma prática comum entre as crianças do interior cearense. Contudo, com tanta tecnologia, está cada vez mais raro esse tipo de criatividade. No Sítio Tope, em Viçosa, Madalena Rosa da Silva, é uma das poucas artesãs que continua contribuindo com o entretenimento infantil. Na casa de taipa, onde mora, ela ainda consegue espaço para fazer cerâmica. Durante a semana, a artesã prepara o barro com ajuda de duas filhas, na sexta-feira, é dia de queimar as peças que, no sábado, são levadas para a feira na sede do Município

Inspiração gigante

Ceramica 32.

Nada de peças pequenas. Hilda Calais, de Viçosa do Ceará, gosta mesmo é de fazer trabalhos enormes e com formas diferenciadas.   A natureza está sempre presente, seja nas flores, nos troncos e animais que surgem em suas criações. Não sabe dizer de onde vem tanta inspiração. Mas bastava olhar, ao seu redor, o verde exuberante da Serra da Ibiapaba.  Às sete, já está no galpão da Associação dos Artesãos do Tope, onde trabalha diariamente, “Gosto muito de contemplar minha arte”, confessa.

O talento de Benedita                                                                                                           

ceramica instrumentos

Para trabalhar, Benedita usa peças com modelo rudimentar, mas sua louça é muito delicada. Nela, a marca registrada são as flores em alto relevo

ceramica 33

Na Fazenda Pató, a 6 km de Caridade, Sertão Central, encontra-se a louceira Maria do Carmo Pereira Teixeira, explica que deixou o ofício e diz que a filha Benedita Gomes de Araújo, como a única sucessora. O ateliê é pequeno com janela para o quintal. Várias peças, a exemplo dos conjuntos de feijoada, já estão prontas para serem queimadas e, posteriormente, entregues. Para demonstrar a rotina de trabalho, a artesã pega uma porção de barro. Sentada no piso de cimento frio, passa horas modelando e alisando a matéria- prima e criando arte.

ceramica 35

O talento da cramista ganhou reconhecimento por meio de exposições no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza e, no Museu de Canindé.

ceramica 34  Conjunto de feijoada pronto para ir ao forno, uma das especialidades da artesã de Caridade.

As Luminárias

ceramica 32a

Determinada e ao mesmo tempo, cheia de sonhos. Ou melhor, desafios como prefere defini-los. Eliana Machado Oliveira de Sousa, mora na cidade de Russas, interior do Ceará. Presidente da Associação dos Artesãos e Artistas Plásticos de Russas há cinco anos. “Sempre me envolvi com a comunidade e descobri a importância do trabalho manual na minha vida”. Na Cidade do Vale do Jaguaribe, conhecida por ter um dos melhores barros do Ceará, viu a necessidade de resgatar o artesanato produzido com a matéria-prima. “Decidi formar a associação. Apaixonada pelo ofício, conta que sua principal criação são os terços. “Consegui desenvolvê-los durante um curso. Outro destaque são as bijuterias, de barro, compostas com diferenciadas matérias-primas. As luminárias e arandelas são o carro-chefe do trabalho do marido, José Nilo, “Tudo é moldado à mão. A gente faz os furinhos com uma faca. Essa ferramenta foi criada especialmente por nós”.

O terço, luminárias, arandelas e bijuterias se destacam na produção da artesã.

ceramica telha

terço eliana

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

colar de barro

DN/Eva/Germana Cabral e Cristina Pioner/Fotos: Marília Camelo e Patrícia Araujo                       Contatos para informações arteemter@gmail.com

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sisal

sisal 6

Serrinha, Distrito de Granjeiro, um dos principais produtores de sisal no Ceará. No início o sisal era usado na fabricação de corda e barbante. Depois, passou também a ser matéria-prima para o artesanato. Com a criação da Associação dos Artesãos da Serrinha logo, surgiu o Grupo Artefibra. Ivani Ferreira, Maria Neuza Carlos de Oliveira e Joana Sousa integram o grupo que trabalha com o sisal no distrito de Serrinha, em Granjeiro, no Cariri que reúne dez mulheres e cinco homens. Eles cuidam mais da parte pesada, do plantio à colheita, embora elas também precisem usar a força para deixar o sisal no ponto desejado. Depois de colhido, é desfibrado. Em seguida, colocado num recipiente com água e sabão durante uma noite. No dia seguinte, é lavado e disposto no varal. É secado longe do sol para não amarelar.

sisal 3A fibra do sisal proporciona peças criativas e com ótima qualidade. “Quanto mais alva, melhor. Ela também pode ser tingida com a cor desejada”

sisal 2Peças em sisal confeccionadas pelo grupo Artefibra, que trabalha com o sisal no distrito de Serrinha, em Granjeiro, no Cariri

Sisal 1

sisal 4

A vegetação é abundante na Serrinha, distrito de Granjeiro. Logo na chegada, arbustos ultrapassam um metro de altura com folhas longas e pontiagudas. É o sisal, uma planta exótica e valorizada na decoração moderna. As folhas são passadas numa máquina rudimentar que extrai a fibra e o bagaço. A primeira vai para o artesanato. O segundo, para a confecção de esteiras usadas no lombo dos animais. A ligação das artesãs com o sisal é antiga. Muitos são pioneiros na plantação da fibra na região. O objetivo na época era a produção de cordas. As mulheres participaram de  um cursos, ministrado pela Ceart para aprender a trabalhar com o sisal. A partir daí, passaram a se dedicar ao artesanato. São bolsas, caixas, descansos de pratos e cestas de diferentes cores e tamanho. Todas de ótima qualidade.

Nazaré   Nazaré do sisal

“Gosto muito de sair pelo meio do mundo ensinando o trançado como sisal. Essa é a herança que deixo”

sisal 8

As vassouras e chapéus de carnaúba às passadeiras e aos tapetes de sisal. Com esses trabalhos, Maria de Nazaré Santos, Natural do Piauí, chegou à Serrinha, distrito de Granjeiro, Nazaré desenvolve artigos com fibras, sempre disposta com o trabalho em sisal. Somente em 1997, o sisal começou a ser utilizado como artesanato na comunidade. Nazaré foi uma das pioneiras no seu uso, tendo presidido a Associação dos Artesãos da Serrinha. “No início, achava que o sisal não me levasse a nada”, diz. Além das peças decorativas, Nazaré faz, com o sisal e carnaúba, chapéus e vassouras: “Gosto da vassoura porque é mais lucrativa, pois produzo até duas dúzias num dia”. Mas requer muita força para ser criada”. Experiente, já ministrou cursos em várias cidades.

sisal 10        Entre os artigos feitos em sisal pela artesã, se destacam sousplats, passarelas e jogos americano

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Carnaúba

Itaiçaba 2

Itaiçaba, terra da carnaúba, a planta enfeita estradas e ruas. É bonito ver nas calçadas a palha durante a secagem. Ali ficam no aguardo do processo para criar as peças. No trançado, tudo começa com o corte do “olho” da carnaúba. Ela pode ficar natural ou ser colorida com anilina, depois, é secada por quatro dias e enrolada num pano úmido para conservar a maciez. As cores são distribuídas conforme o desenho da peça.

Arte na

Palha

Itaiçaba 5

Cartão-postal de Itaiçaba, ela esta por todos os lados. Da carnaúba, responsável por boa parte do desenvolvimento desse município do Vale do Jaguaribe se aproveita tudo: palha, cera, talo, pó e madeira. As maiorias das famílias locais vivem em torno do que a planta símbolo do Ceará oferece. As mulheres, em especial, agradecem natureza. É o que faz todos os dias, Raimunda Lúcia Oliveira Barbosa. A mudança radical na vida quando foi uma das fundadoras da Associação Comunitária das Mulheres Artesãs de Itaiçaba. “Nessa época, decidi retornar ao trabalho com a palha de carnaúba fazendo trançado “tudo começou a mudar”. Somente na casa da artesã trabalham cerca de 20 pessoas diariamente. A cozinha e parte do quintal foram transformados em ateliê. Como presidente da Associação, ela é responsável pela coordenação de toda a produção e, principalmente, pelo controle de qualidade. “Quando olho um artigo pronto, fico orgulhosa de ver que não faz vergonha mostrá-lo. Com o trabalho, sem dúvida, também faz sua parte pelo desenvolvimento da palha de carnaúba em Itaiçaba.

 

itaiçaba 1Raimunda Lúcia no seu ateliê em Itaiçaba:“o trabalho com palha deu novo sentido à minha vida”

A partir de utensílios do cotidiano, os artesãos de Itaiçaba descobriram novas possibilidades e design utilizando a farta matéria prima no Vale do Jaguaribe. Isso foi possível graças à criação da Associação Comunitária das Mulheres Artesãs de Itaiçaba. Sua sede, no Centro da cidade, conta com showroom, auditório, almoxarifado e estufa. A primeira iniciativa Foi um curso para 15 pessoas, iniciativa da Ceart. “Nós tínhamos a habilidade, mas faltava design”, diz a presidente Raimunda Lúcia Barbosa, lembrando que o apoio do SEBRAE-CE, por meio do projeto Irmãos do Ceará, e da Rede Ceará Design foi importante para aprimorar o trabalho. Além de novos modelos, aprendeu-se a calcular o preço justo, tudo com a marca Arti.

Itaiçaba 3   Mescladas com a palha de tom natural, as coloridas possibilitam design diferenciado ao trabalho da Associação Comunitária das Mulheres Artesãs de Itaiçaba (Arti). A palha é tingida antes de ser trançada.

itaiçaba 4           A cada ano é desenvolvida uma nova coleção com artigos em cestarias, jogos americanos, caixas,baús, descanso para panelas,entre outras peças.

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