quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Arte Tremembé

TREMEMBÉ 1

Na escola, Maria de Fátima Andrade de Sousa, a Navegante, como é conhecida, já dava sinais de que deixaria a sua marca na cultura Tremembé. Os cadernos não tinham nada escrito, apenas desenhos. “Eu prestava a atenção à aula, mas o sentido só vinha em desenho”, recorda.

Um desenhista de Fortaleza, teve contato com os rabiscos de Navegante e passou a utilizá-los. Até então, ela não tinha ideia da valor da sua pintura. Com a ajuda de Maria Rosa, outra artista da arte indígena Tremembé já falecida, Navegante descobriu que os desenhos podiam ser feitos a partir de uma tinta extraída da natureza: o toá. Inicialmente, usavam apenas a cor do barro. Maria Rosa tinha uma parede de sua casa pintada com a tinta. Então, começamos a encontrar no rio outras tonalidades, como a vermelha e a amarela”, explica. Com as duas cores, misturadas a outros elementos, cujos nomes são guardados sob segredo, foram surgindo outros tons. O processo de preparação não é muito simples, mas Navegante o faz com muito orgulho. Afinal, é a partir do material que brota a sua arte. Com tudo pronto, é só dar início à pintura. Navegante já está repassando esse conhecimento para crianças e jovens na escola indígena da aldeia onde mora.

A artista, tanto pinta em peças de cerâmica quanto em telas. Também colore paredes. Um dos seus trabalhos e a fachada do Centro de Arte e Cultura, na Varjota. Os desenhos retratam a fauna e a flora exuberantes na sua comunidade indígena. Os traços são simples, na maioria das vezes, ingênuos.

TREMEMBÉ 2 Em cerâmica e telas, as pinturas de Navegante estão expostas na Loja de Artes Indígenas Toré-Torém, na Ceart, em Fortaleza

Nada é riscado previamente. As criações vêm do seu imaginário, sempre liberto para rabiscar.

“Meu sonho é meu trabalho, a minha cultura”                    Navegantes

tremembeAo lado de Maria Rosa, Navegante já pintou um painel no Museu do Ceará, em Fortaleza, exposto na sala dedicada aos povos indígenas

Tremembés

Os tremembés são um grupo étnico indígena que habita os limites do município brasileiro de Itarema, no litoral do estado do Ceará.

Originalmente nômades que viviam num território que estendia-se nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII

Arte e Cultura

Os tremembés conseguiram guardar um pouco da sua arte e cultura. Eles ainda dançam o toré (uma dança ritual) e ainda produzem o mocororó (suco de caju fermentado). Costumam pintar as paredes das suas habitações e cerâmicas com motivos simbólicos do seu habitat, como: o caju, a rolinha, peixes, caranguejos e outros. As mulheres tremembés confeccionam biojóias como colares, pulseiras etc. com conchas, búzios e sementes

TREMEMBÉ 3  A Tremembé Maria Rosa

Quando vou fazer já sei no sentido se é peixe, flor, coqueiro. Muitos, eu penso. Só pinto quando tenho vontade”.

Maria Ferreira dos Santos, a Tremembé Maria Rosa, já falecida, amiga de Navegantes, explicando que via pinturas nas paredes do pessoal antigo, achava bonito e resolveu fazer também. Maria Rosa misturava, nessa arte ancestral, árvores e bichos, numa inscrição ritual que religa sua etnia ao sagrado. ”Como grande parte dos artistas da tradição, ela descarta a ideia de mestres”. Rosa era assim mesmo. Simples por natureza, conseguia escrever, por meio da arte, todos os seus sentimentos. Trabalhou na roça, enveredou pelos trançados de palha, e deixou, muitas da sua obra.

TREMEMBÉ 6 TREMEMBÉ 5 

TREMEMBÉ 4       Nas criações, Navegante remete à sua origem indígena, os Tremembé de Itarema, no Litoral Oeste do Ceará

DN / Eva / Germana Cabral e Cristina Pioner / Fotos:Marília Camelo e Patríci Araujo                                                             arteemter@gmail.com

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