Cesta togeliforme ou balaio ( wayála) Confeccionada em fibra de uramã natural e tingida de preto, kettamárhi (desenho de um tipo de besouro) Povos Baniwa (artesão) Alto Rio Negro Bacia do Rio Içana
Além da peneira e do tipiti, os baniwas tramam os urutus (ooloda, na língua baniwa)
Desenhos milenares inscritos nas pedras, conhecimentos de botânica adquiridos na própria vivência na mata, destreza manual, cultura revalorizada. Desses ingredientes é feita a arte Baniwa. A obstinação de antropólogos, sociólogos, educadores, etnobotânicos e agrônomos reunidos em torno a organizações dedicadas ao trabalho junto às comunidades indígenas, soube valorizar e dignificar a arte indígena e viabilizar o desenvolvimento sustentável desse grupo étnico, tornando possível a comercialização de seus artefatos
Por que esse artesanato é visto como arte?
Cesta tigeliforme ou balaio (waláya) Esta cesta é considerada pelos baniwa a mais trabalhosa, especialmente pelo acabamento que requer o beiral. Há vários tipos de acabamento: em arumã natural ou apenas raspado, sem tingimento; ou com grafismos coloridos, marchetados em uma ou nas duas faces.
Alto Rio Negro, Bacia do Rio Içana, fronteira com a Colômbia e a Venezuela. É nesse pedaço de Floresta Amazônica que se encontra uma população de 12 mil índios, sendo cerca de 4 mil no Brasil, ocupando a maior parte de uma área de 100.000 km2 (solos áridos e pobres, manchas descontínuas de terra firme separadas por igapós), no Estado do Amazonas. É a etnia baniwa, parte do grupo linguístico aruak. Habitando há séculos o extremo noroeste do Brasil, os povos baniwa vivem tradicionalmente da cultura da mandioca brava e da pesca. Seus artefatos, usados apenas para consumo da tribo, passaram aos poucos, e em pequenas quantidades, a serem trocados por bens de consumo, ou ainda – costume estabelecido pelas missões católicas – “pagos” com roupas usadas.
Dignificar a arte indígena é viabilizar o desenvolvimento sustentável
Cesta vasiforme, em trançado de fibra de arumã, tricolor
O que é a arte baniwa? Como ela consegue ser fiel às suas características milenares? Por que esse artesanato é visto como arte? O homem baniwa colhe o arumã, recolhe as plantas que servirão para o tingimento e a fixação das cores, prepara e corta a palha, realiza o trançado das peneiras, dos cestos e do tipiti. A mulher baniwa rala, espreme a massa de mandioca ralada no tipiti, coa na peneira, processa a mandioca: faz farinha e beijus nos artefatos criados pelo seu homem. É assim desde sempre.
Além da peneira e do tipiti, os baniwas tramam os urutus (ooloda, na língua baniwa), que servem para guardar farinha, beiju ou roupa, e também a mandioca, antes ou depois de espremida no tipiti. O arumã (Ischnossiphon) cresce em touceiras, em terrenos úmidos ou semi-alagados, e brota após o corte. Além do arumã, os baniwas também usam a jacitara, o caranã e o javari. E, lendo esses nomes de plantas brasileiras, nos damos conta de quanto desconhecemos nosso país!
Maria Helena Estrada
Cesta vasiforme ou jarro (hakadádali), em trançado de fibra de arumã bicolor
Cesta vasiforme ou jarro (hakadádali), em trançado de fibra de arumã bicolor natural e pigmentada em vermelho e preto.
O termo hakadádali, em baniwa, refere-se ao formato barrigudo de uma cesta ou cerâmica, palavra que também se aplica às pessoas (mulheres grávidas, por exemplo) e aos animais. Consta que, para os baniwa, este tipo de cesta tem o formato do universo. Antigamente eram feitos também de cipó, e usados para guardar miudezas e iscas para pescar
Cesta paneiriforme – Urutu. Elaborada em fibra de arumã nas cores preto e natural, acabamento em aro plano
Cesto paneiriforme ou urutu, elaborado em fibra de arumã trançada nas cores preto e naturalm, aro plano com tingimento em vermelho
Cesta paneiriforme – urutu. Povos baniwa (artesão) executada pelo entrançamento de fibras de arumã, com motivo gráfico diákhe (desenho/movimento infinito) em fibra tingida de preto
Textos Expressão Cultural – Beto Ricardo/ISA / Maria Helena Estrada / foto Marcelo Uchôa /acasa.org / Federação das Associações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). OIBI (Organização Indígena da Bacia do Içana)
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