Postagem por sugestão a pedido de leitores.
“Arquitetura espontânea”
Em todos os tempos, nas mais diversas regiões do mundo, certas pessoas, desligadas de compromissos com regras e modelos determinados por sua cultura, criam intuitivamente a habitação em que vão viver. Constroem para si a casa nascida de suas idéias, fruto da manifestação do seu inconsciente, são os "construtores do imaginário", guiados que são por uma fantasia que os domina obsessivamente.
É uma arquitetura baseada em soluções surpreendentes porque foge dos padrões tradicionais e porque nascida do uso de materiais considerados pouco nobres e nada convencionais. Vem despertando a atenção de críticos e teóricos em todo o mundo e seus autores - os "construtores do imaginário" - estão sendo redescobertos e merecendo, em outros países, a publicação de livros de arte, estudos críticos, filmes, etc. No Brasil, infelizmente, essa discussão é quase inexistente e precisa ser introduzida, já que contamos com um exemplar perfeito e de qualidade inquestionável que é a Casa da Flor.
Sonhos e imaginação
Considerada uma obra prima da arquitetura espontânea no país, a Casa da Flor, é tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. A casa foi construída a partir de 1912, em São Pedro da Aldeia, RJ, por um homem pobre, negro, trabalhador das salinas da região, e que nunca frequentou uma escola. Entre 1923 e 1985.
Gabriel Joaquim dos Santos foi adornando o seu lar com materiais recolhidos no lixo doméstico e no refugo das obras civis do local, guiado por sonhos e uma fértil imaginação. Sem recursos, Gabriel lentamente, ergueu a casa de pau-a-pique, cheia de cacos de cerâmica, de louça, de vidro, ladrilhos, lâmpadas queimadas, pedras, conchas, pedrinhas, correntes, tampas de metal, manilhas, faróis de automóveis... Aos poucos foram formadas flores, folhas, mosaicos, cachos de uvas, colunas e esculturas fantásticas, fixados dentro e fora da casa.
O lugar nem é muito divulgado na região. Seu acesso é feito por uma estrada de terra, braço da BR que liga São Pedro da Aldeia a Cabo Frio. Vale a visita pela simplicidade, pela beleza, pelo esforço e dedicação de quem viveu ali
Com o objetivo de preservar e divulgar a casa e o trabalho de Seu Gabriel, um grupo de admiradores criou, em 1987, a Sociedade de Amigos da Casa da Flor, hoje Instituto Cultural Casa da Flor, visando informar e conseguir a adesão de novos membros, além de captar doações que possibilitem continuar o trabalho desenvolvido até agora.
O artista Gabriel Joaquim dos Santos
Ergueu a casa de pau-a-pique, cheia de cacos de cerâmica, louça, vidros, ladrilhos, lâmpadas queimadas, pedras, conchas, pedrinhas, correntes, tampas de metal, manilhas, faróis de automóveis...etc.
Profundamente religioso, atribuía a Deus a realização da sua obra, ela era fruto de inspiração divina
Detalhes extermos Casa da Flor
“Eu fico mais satisfeito trabalhando com os cacos porque as coisas modernas, coisas novas, ninguém vai ver. A gente entra nas cidades grandes, aquilo lá está tudo moderno, tudo bem organizado, tudo custa muito dinheiro. As pessoa vêem ali a força da riqueza. Mas aqui elas gostam de ver porque é a força da pobreza” Gabriel Joaquim dos Santos
“De noite, acendo a lamparina, me sento nessa cadeira, oh, que alegria para mim! Quando eu vejo tudo prateado, fico tão satisfeito... Tudo caquinho transformado em beleza... Eu mesmo faço, eu mesmo fico satisfeito, me conforta...” Gabriel Joaquim dos Santos
“Às vezes saio para ver essas coisinhas que eu mesmo faço e eu mesmo fico satisfeito, me conforta” Gabriel Joaquim dos Santos
“ Aquelas flores é feita com caco, de telhas, é um coisa mais forte, caco de pedaço de pedra, porque quero fazer que fique aí, não se desmanche. A chuva bate, lava, é sempre, é uma sempre-viva aquilo”. Gabriel Joaquim dos Santos
“Ainda está claro do dia, eu já estou procurando a cama, mas não pra dormir, prá pensar. Me deito na cama, pego a imaginar até meia-noite, pensando. O meu sentimento vai muito longe”. Gabriel Joaquim dos Santos
“Vem uma pessoa com um azulejo, eu boto. Vem uma pessoa com um caramujo, eu boto. Vem uma pessoa com um prato quebrado, quebra uma jarra, eu faço aquela ramagenzinha, uma rosa, boto prá enfeitar”. Gabriel Joaquim dos Santos
“ Eu quero os cacos porque dos cacos eu vou fazer as coisas para as pessoas se admirar, pra quê quero comprar uma jarra nova? Jarra comprada eu não preciso. Isso não tem graça”. Gabriel Joaquim dos Santos
“Esta casa não é uma casa, isto é uma história, é uma história porque foi feita por pensamento e sonho. Deus me deu essa inteligência. Vêm aquelas coisas na memória e eu vou fazer tudo perfeitinho como eu sonhei. Trabalhei sozinho, todo esse movimento que está aqui não tem ajuda, eu que fiz tudo com as minhas mãos”. Gabriel Joaquim dos Santos
Os cadernos de apontamentos de Gabriel Alguns "assentamentos" ou anotações que ele fazia:
Gabriel Joaquim dos Santos tinha o hábito de anotar em cadernos simples e baratos, escritos em letras de forma, todos os acontecimentos que o impressionavam. Tudo depois que aprendeu a ler, com um menino vizinho, aos 36 anos
Gabriel botou vidro de carro em cima da casa no dia 19 de junho de 1978 botou garrafas nas manilhas dia 20-6-78 botou azulejos na cama dia 11 julho-78
No dia 13 dezembro Gabriel vendeu 2 galos a Dna Maria por 26 contos em 1973
Gabriel começou a receber ordenado mínimo a 7 agosto 1954 saiu 50 cruzeiros
A inauguração da estrada de ferro Maricá foi feita em Cabo Frio no dia 11 setembro no ano 1937 e depois parou no dia 10 janeiro de 1962
Fotografias,Textos, Pesquisa, e Organização Amélia Zaluar.
casadaflor_instituto@yahoo.com.br http://www.casadaflor.org.br/sociedade.htm arteemter@gmail.com
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