terça-feira, 20 de outubro de 2009

Hélio Oiticica

Compramos as cinzas do acervo
de Hélio Oiticica.


A sugestão esta lançada. É isso mesmo, compramos todas as cinzas e tudo que foi queimado no acervo de Hélio Oiticica. Compramos com portas fechadas. “Fechem as portas do acervo” pronto, quanto querem por tudo que esta ai?.
Artistas, colecionadores do mundo todo, pesquisadores, leiloeiros, marchand, galerias, empresários, enfim todos que apreciam arte, reunidos, para que o menor fragmento de tudo seja adquirido, porque ali não são simplesmente cinzas ou restos escaldados de um incêndio comum, mas arte, tudo ali é arte, do menor grão de cinza ou fuligem ao maior pedaço de carvão de alguma escultura, objetos, quadros e obras consagradas como os Bólides e os Parangolés, tudo é arte. Depois da compra, reuniria tudo em uma exposição em um grande salão adornado e montado em ambientes gigantes formando uma grande exposição como nos anos 60 quando Oiticica teve seu papel importante nas artes plásticas, criando obras que passavam do impensável. Seus penetráveis apresentavam além da colossal visão, tato, olfato, audição e paladar. Assim se faria com os rescaldos, montaríamos tendas, bandeiras, estandartes, peças rescaldadas que se desprendiam do teto chamuscado com vibrantes e gigantescos móbiles, telas e quadros em colagem de pequenos retângulos feitos com cinzas e restos de esculturas em carvão, incontáveis módulos espalhados por todos os cantos, cortinas estampadas, tudo no maior estilo de Hélio Oiticica. Pela sua audácia e ousadia essa certamente seria sim a idéia que sairia da mente do pintor, escultor e artista plástico. Ele transformaria cinzas em arte, pura arte, porque era isso que respirava a cada suspiro, e também o que via a cada olhar inventivo, criativo e porque não dizer cientista Hélio Oiticica. Pegaríamos também pequenos fragmentos escaldados do que restou, selecionaríamos em pequenas caixas em cubos e retângulos feitos de vidro com certificado e garantia de autenticidade. Ali estaria parte do que restou das peças do artista, copiando literalmente a ideia de Justin Gignac que usando a criatividade faz do lixo de Nova York, uma obra de arte, e olhe que lá é lixo mesmo, lixo puro transformado em arte e vendido cada cubo por U$ 90 dólares. Aqui seria arte pura transformada em cinzas, cinzas do descaso, do abandono, cinzas de intransigências. Não importa, são realmente cinzas da mais pura e bela arte de Hélio Oiticica. Como histórico dos nossos pequenos cubos e retângulos que seriam vendidos, sim, vendidos, em todo o mundo por onde ele expôs. Tenham certeza que seria a mais valiosa peça disputada por colecionadores e galerias onde quer que você imagine. Seria dinheiro, muito dinheiro que surgiria de todos os cantos para manter um acervo de cinzas e restos queimados de arte, de quem não merecia ter o seu cérebro queimado e em cinzas. No meu pequeno cubo de vidro autêntico, estaria escrito “Aqui, estão às cinzas do cérebro de Hélio Oiticica. Não propriamente do cérebro. Mas das ideias que jorravam e afloravam dele”.
O MEU CUBO SERIA EXPOSTO NO MELHOR E MAIS SEGURO LUGAR.
Quanto vale! Não vendo, não tem preço.


Wilton Pinheiro/Fotos: sobarte.blogspot.com                

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