As três mulheres de Rachel.
DONAS DE MENTES CRIATIVAS E MÃOS TALENTOSAS, ARTESÃS CEARENSES GANHAM PRÊMIO E HOMENAGEIAM RACHEL DE QUEIROZ,
A cortina “Três Marias ” foi feita com argolas, cetim e fios de linha, pela artesã Maria das Graças da Cruz Paulo.
O drama, o sofrimento da seca, a esperança e os milagres descritos nos livros de Rachel de Queiroz ganham nova aparência ao receber o delicado toque dos artesãos cearenses. Os azulejos são capazes de formar um simpático rosto, o barro, moldado e pintado, dá vida a uma linda tigela rústica. Já a junção da palha e tecido, coco e algodão retratam impecavelmente as dificuldades dos retirantes nordestinos. Com o propósito de exaltar a vida e obra de Rachel de Queiroz, diversos artistas abraçaram a proposta do VI Salão Municipal do Artesanato de Fortaleza. Eles criaram peças com materiais como mosaico, bordado, crochê, argila, cerâmica, ferro e madeira, que valorizam a cultura nordestina e homenageiam a famosa escritora.
Os 71 trabalhos, expostos, passaram pela seleção de um júri. Três deles foram premiados. A vencedora Maria das Graças da Cruz Paulo é uma das mãos capazes de tecer, com destreza, desenhos que lembram Rachel de Queiroz. Ganhadora do primeiro lugar, a artesã concorreu com outros 71 artistas que, assim como ela, exerceram a criatividade elaborando peças que trazem à tona aspectos dos livros da escritora.
Trabalhando com artesanato há 30 anos, Maria das Graças se inscreveu no Salão pela primeira vez, sem nenhuma perspectiva de vencer. “Foi uma surpresa pra mim, pois sou acostumada a trabalhar na minha, quietinha, mas sempre com muita dedicação. Quando soube, fiquei muito feliz pelo reconhecimento”.
O colar, com retalhos de tecidos, vem com uma das frases de Rachele, relembra a vida dos retirantes. A artesã Angelice Santos Custódio levou cinco horas na elaboração da peça.
Tudo aquilo que, aparentemente, não tem mais valor, ao passar pelo manuseio de Angelice Santos Custódio, ganha novo sentido. A partir da precisa composição de retalhos e linha, bordou o colar “A esperança de sobreviver”, revelando a vontade que uma família tem de vencer a seca. Na lateral do colar, bordada em branco, uma das célebres frases de Rachel: “Cada coisa tem a sua hora e cada hora o seu cuidado”. Esse é o diferencial da peça ganhadora do segundo lugar.
Panô “As mulheres de Rachel”, confeccionado por Maria Silva Cavalcante Porto
Com a ideia de expor a vivacidade, outra marca das personagens de Rachel de Queiroz, a artesã Silvia Cavalcante, ficou com o terceiro lugar. Ela optou por utilizar tinturas coloridas para confeccionar o panô “As mulheres de Rachel”, que faz menção ao universo feminino tão presente nos livros da cearense.
Assim com as outras duas vencedoras, Silvia também se dedicou à leitura de obras, a fim de deixar seu trabalho o mais parecido possível com a escrita da autora. Embora tenha tido atenção em fazer um retrato fiel, ela não deixou de ousar. “Se quiser criar coisas novas, o artista tem que se reinventar e estar sempre aberto ao novo”, defende. As três vencedoras concordam que a vida de artesã não é fácil, mas se torna prazerosa pela possibilidade que oferece de valorizar as coisas simples da vida, garantindo, por meio disso, a beleza e o diferencial de suas criações.
Nomeada como“ A consagração”, a escultura criada por Airla Gomes é de argila, fitilho, tinta,arame e purpurina.
A peça retratando “O quinze, os retirantes” é assinada por Maria de Fátima Carvalho, que usou algodão, palha, tecidos, coco e barro.
A quartinha “Não me deixes”, inspirada na fazenda da escritora, foi produzida por Jorge dos Santos.
Peça “Rachel”,de Valdenora Lima
Eva/DN/ Fotos Viviane Pinheiro arteemter@gmail.com